A dupla de arbitragem de Beach Handball com mais jogos em mundiais e mais finais em competições internacionais se aposentou no último brasileiro e nós do CEPRAEA entendemos que não podíamos deixar de entrevistar os professores Silvio Lago e Luiz Felipe. A contribuição desses professores para o beach handball é insquestionável e sua experiência com certeza contribuirá e muito para a manutenção e evolução do nosso esporte. Com esse objetivo divulgamos a entrevista concedida ao blog do CEPRAEA pelo Professor Silvio Lago, a quem gostaríamos de agradecer por todo o respeito e educação que sempre teve com todos e pela bela entrevista concedida.
"Muito obrigado, trabalhamos muito para esse reconhecimento. Tudo em nome do Brasil." - Silvio Lago
Professores Luiz Felipe e Silvio Lago na etapa final do Brasileiro de Beach Handball 2012, Guarujá, SP.
Fonte: guerra-peixe.blogspot.com
Como você entrou para o handebol de areia?
Silvio: Bem no início em 1995 o professor Willian Filipe, na época presidente da FHERJ começou a trabalhar o beach handball no Rio de Janeiro, naquela época era muito estranho e deixei de lado. Só em 2001 quando Filipe, minha dupla atual, me chamou para apitar com ele, aí resolvi investir mais no beach handball.
E quando surgiu a vontade de ser árbitro?
Silvio: Em 1992, quando recebi um convite de um amigo para apitar uma olimpíada interna em um colégio em Campo Grande (não me lembro o nome do colégio). Lá se encontrava um grande amigo da arbitragem, o Professor Gaia, que me convidou para fazer o curso de árbitros.
Quais são as dificuldades de arbitrar no beach handball? Apitar o beach handball é um desafio?
Silvio: Não vou colocar como desafio, o beach apareceu para quem gosta do espetáculo, do jogo jogado, os atletas mostrando suas verdadeiras habilidades. A grande dificuldade de se arbitrar o beach é que os árbitros tem que diferenciá-lo da quadra, no beach não pode haver os mesmos contatos que há na quadra, por isso a grande dificuldade.
O que você acha que deve ser feito para melhorar o esporte?
Silvio: Como qualquer esporte que está se iniciando, nos falta em 1º lugar trabalhar nosso ídolos. Precisamos muito de ídolos. E no beach temos vários nomes como Jerusa, Cinthya, Zezé, Milena -PB, Manu-CE, Camilinha, Nathalie, e Thiago Gusmão, Bruninho, Gulliver, Gil, Baldacin e muitos outros atletas, mas não sabemos trabalhar com eles. É preciso também vender a imagem do beach handball. Vejo muitas brigas bobas dos clubes com a direção, mas nunca vi os clubes se unirem e tentar procurar um nome na mídia para ajudar o beach handball. Mesmo assim estamos indo para o caminho certo.
O beach handball brasileiro tem um cenário promissor. As seleções são fortes nos deixando como potência absoluta no esporte. Os campeonatos regionais têm se fortalecido e contado com equipes mais comprometidas. O que você acha que falta ao beach handball brasileiro?
Silvio: Apoio das federações, dos clubes, técnicos, o beach já é realidade, mas existem pessoas que ainda tem medo do seu sucesso.
O que você acha que o Brasil tem de bom em comparação aos outros países?
Silvio: Tudo... Somos os melhores, sabemos nos organizar, muito treino, pessoas maravilhosas nas comissões técnicas, isso não vemos lá fora.
O que você acha que ainda temos que aprender com os outros países?
Silvio: Organização de mídia.
Como você que acompanhou a evolução do beach handball no Brasil vê a modalidade hoje? Quais foram as mudanças mais relevantes em sua opinião?
Silvio: Hoje jogamos o melhor beach handball no mundo, e não só na seleção, nos clubes também. As finais feminina e masculina deste ano no Guarujá mostraram isso. Finais maravilhosas e, com certeza, os melhores jogos do mundo. Ninguém joga igual ao Brasil. Perdemos jogos lá fora por problemas extra quadra, e isso temos que trabalhar ainda. Quanto às mudanças, não houve. Sempre treinamos muito, sempre buscamos estudar muito.
O beach handball é um esporte de fair play. Você acha que isso tem sido respeitado nas competições pelo Brasil? Acha que ainda existe muito vício de quadra (tanto de atletas como de árbitros)?
Silvio: Agora não, de dois anos pra cá vimos equipes que jogam o beach handball, porque treinam o beach handball. Os técnicos estão buscando conhecimentos, os jogadores estão aprendendo o espírito do beach, os árbitros estão buscando o entendimento do jogo... O grande problema é que temos poucas regiões que jogam o beach, e todos, eu digo TODOS, não aproveitam os nossos técnicos das seleções. Os professores Guerra e Rossana estão aí, CAMPEÕES DO MUNDO e acessíveis e pouca gente abusa dos conhecimentos deles.
Qual o panorama você traça sobre a arbitragem brasileira?
Silvio: Está melhorando, mas está muito atrás. As equipes estão se preparando mais, os árbitros não. Os árbitros apitam pouco, não há uma valorização nas federações e quando há, não há o investimento na arbitragem, simplesmente apitam é pronto, não há uma padronização, mini curso, coisas desse tipo.
O que irrita mais a arbitragem? O que o atleta deve e não deve fazer para tirar do sério um árbitro?
Silvio: Deve jogar e só, lugar de jogador é na quadra jogando e tentando levar sua equipe a fazer o melhor, o pior jogador é aquele que quer ser árbitro, apita tudo, mas isso não é culpa dele, pra mim os grandes culpados são os técnicos que reclamam sempre, os atletas se espelham nos técnicos e começam a fazer igual.
Existe imparcialidade na arbitragem?
Silvio: Com certeza. O árbitro sempre é imparcial, pode existir o árbitro que não sabe apitar, mas parcial, nunca vi... Se existir, sou o 1º a brigar por sua expulsão do quadro de árbitros.
A decisão de parar de arbitrar foi uma surpresa para todos do beach handball. Por que vocês tomaram essa decisão?
Silvio: Já vínhamos pensando nisso, mas decidimos mesmo na noite do dia o4/o2 antes das finais. Foi estranho, mas chegou a hora. Já fizemos e conquistamos de tudo na vida da arbitragem, chegou a hora dos mais novos conquistarem seus espaços e a nós (eu e Filipe) buscarmos outros espaços.
Mas com o Mundial tão perto (2012) não seria mais justo com a sua carreira se despedir nessa competição?
Silvio: Sim, com certeza, seria um grande sonho me aposentar também em um mundial, quem sabe um convite (kkk), mas sabemos que paramos na hora certa.
E agora? Quais são os projetos?
Silvio: Seguir na carreira de Educador Físico, ministrando minhas aulas no colégio que trabalho, aprender mais como é estar do outro lado como técnico, dirigente, e levar um pouco do que eu aprendi em minicursos de arbitragem. Quem quiser contratar é só me chamar, kkkk...
Em todos esses anos de beach devem ter acontecido muitas coisas engraçadas. Tem alguma história que você possa nos contar?
Silvio: Uma não, tenho várias, mas se eu contar aqui vou ficar muito tempo, na quadra quando me juntava com meus amigos, Filipe, Fernando, Carlos Alberto, Erick, Euter, era coisa de doido, Titio Willian ficava louco com a gente, kkkk, vivemos intensamente esta vida e fizemos muitos amigos por todo essa Brasilzão e mundão.
A última pra acabar. Professor, mas como é que quica a bola?
Silvio: Pergunte ao Bruninho (curinga da seleção brasileira), ele faz isso com maestria, eu só apito. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!
Professor, muito obrigado pela entrevista! Ficamos tristes com a aposentadoria de vocês devido à qualidade em quadra, mas sabemos que continuarão atuando pela melhoria da modalidade de outras maneiras, o que nos deixa contentes e esperançosos. Uma mensagem para terminar a entrevista?
Silvio: Muito obrigado por esta oportunidade, foi maravilhoso responder estas perguntas e aproveito para dar os parabéns a todos do CEPRAEA que mostraram o verdadeiro jogo de beach handball nas areias do Guarujá, na minha opinião é a única equipe do Brasil (masculino) que joga o verdadeiro beach handball.